‘Deve ser legal cuidar’, diz Sylvia Earle
Os oceanos do mundo enfrentam uma série de crises crescentes – desde a morte dos recifes de coral até à pesca excessiva que ameaça os ecossistemas marinhos. Mas, sentada nas TIME100 Talks no Rio de Janeiro, no dia 4 de novembro, a lendária exploradora e oceanógrafa Sylvia Earle queria reservar um minuto para olhar para trás, para uma ameaça aos oceanos do século anterior: a caça às baleias.
Desde o momento em que a prática se tornou uma indústria significativa no século XVIII até à sua proibição oficial em 1986, os caçadores de baleias foram anunciados com canções e literatura celebrando as suas façanhas. E a população global de baleias diminuiu vertiginosamente até ao ponto de quase extinção.
Depois, como recorda Earle, ocorreu uma mudança cultural quando os ativistas destacaram a situação das baleias: os seres humanos em todo o mundo começaram a achar a caça às baleias desagradável. “Quando eu era criança, os baleeiros eram celebrados”, disse ela. “Hoje, as baleias estão sendo celebradas.”
É uma reflexão importante enquanto países de todo o mundo se reúnem no Brasil para a conferência climática COP30 das Nações Unidas deste ano e eventos relacionados. Grande parte da conversa que acontece nas cidades de Belém se concentrará em como ativar governos, empresas e investidores. Mas Earle, o oceanógrafo e explorador de 90 anos, diz que a mudança cultural também é importante. “Deve ser legal se importar”, disse ela.
A abordagem de Earle para liderar com empatia é, em grande parte, o que a tornou um nome familiar – e, talvez, uma parte que falta no quadro neste momento crítico para os esforços para combater as alterações climáticas e proteger os ecossistemas naturais.
“Podemos fazer a mudança individualmente pelas escolhas que fazemos”, diz ela. “Precisamos de algumas mudanças nas regras e regulamentos governamentais, mas isso apenas reforça o que as pessoas fazem.”
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Não há dúvida de que este é um momento desafiador – tanto para a proteção dos oceanos como para os esforços em matéria de alterações climáticas. As temperaturas globais continuam a aumentar juntamente com a concentração de carbono na atmosfera. Os oceanos estão a ajudar a abrandar o aumento da temperatura – absorvendo grande parte do carbono emitido pelos seres humanos – mas os cientistas alertam que podem estar no seu limite. Ao mesmo tempo, os ecossistemas marinhos estão a sofrer. As temperaturas dos oceanos estão a aumentar rapidamente, ameaçando os recifes de coral e outras formas de vida marinha. A sobrepesca e a poluição humana desenfreada que chega ao oceano agravam o desafio. “Estamos no caminho certo para criar um planeta que não funciona mais a nosso favor”, disse ela.
Earle defendeu o Tratado de Alto Mar, um quadro jurídico para proteger a biodiversidade em águas internacionais, e continua a apelar a esforços globais para proteger os oceanos. Mas grande parte do seu foco hoje em dia centra-se no envolvimento de uma faixa mais ampla da sociedade. A Mission Blue, a sua organização sem fins lucrativos dedicada à protecção dos oceanos, identificou “pontos críticos” chave para a conservação e está a trabalhar para equipar as pessoas no terreno com as ferramentas para preservar o seu ecossistema marinho local. “Todos nós, cada um de nós, toda a vida na Terra depende da existência de um oceano vivo”, disse ela.
Earle não esteve sozinho nestes esforços para usar a empatia e a conexão para promover a proteção da natureza. A primatóloga Jane Goodall, que morreu em outubro aos 91 anos, usou os seus documentários e a sua celebridade para mostrar a ligação entre primatas e humanos – ajudando pessoas de todo o mundo a conectarem-se com o mundo natural. No Rio, Earle relembrou as razões pelas quais Goodall se autodenominava otimista – incluindo o espírito humano e o poder da juventude – e apelou às pessoas para canalizarem essa energia.
“Saber é a chave para cuidar”, disse Earle. “E nunca houve um momento tão grande de oportunidade para pegar o que é conhecido e transformá-lo em ação.”
TIME100 Talks: Reimaginando o Futuro dos Nossos Oceanos com Sylvia Earle foi apresentado por relógio oficial Rolex.
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