Comando Vermelho: O que saber sobre a gangue no centro da repressão mortal do Rio
Pelo menos 40 corpos foram alinhados nas ruas do Rio de Janeiro no dia seguinte a um grande confronto entre a polícia brasileira e a gangue do “Comando Vermelho” que deixou mais de 100 mortos, segundo autoridades.
A carnificina ocorreu depois que cerca de 2.500 policiais e soldados lançaram uma operação massiva contra a gangue do tráfico de drogas no Rio na terça-feira, mergulhando a cidade no caos com tiroteios e explosivos lançados por drones contra a polícia durante a operação.
Ao final da operação, 81 suspeitos foram presos e 119 pessoas morreram. Foi a operação mais mortífera de sempre da polícia do Rio e suscitou críticas de grupos de defesa dos direitos humanos pelo uso excessivo da força.
Claudio Castro, Rio de Janeiro’s governor, compartilhou um vídeo no X em resposta à operação, chamando-a de “dia histórico na luta contra o crime no Rio de Janeiro”.
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Entretanto, grupos de direitos humanos apelaram a uma investigação sobre o ataque devido ao enorme número de mortos.
“A sucessão de operações letais que não resultam em maior segurança para a população, mas que na verdade causam insegurança, revela o fracasso das políticas do Rio de Janeiro”, escreveu César Muñoz, diretor da Human Rights Watch no Brasil, no X, chamando as mortes de uma “tragédia”.
“O Ministério Público deve abrir as suas próprias investigações e esclarecer as circunstâncias de cada morte”, acrescentou.
Os tempos do Rio classificou o ataque como o “dia mais mortal da história do Rio”, enquanto O Globo disse que a operação foi “o maior golpe que o Comando Vermelho sofreu desde o início de sua história”. O número de mortos superou o de uma operação policial em 2021 contra o grupo.
A mídia local informou que, em resposta, supostos membros de gangues bloquearam estradas no norte e sudeste do Rio, causando danos significativos aos ônibus, enquanto dezenas de universidades e escolas teriam cancelado aulas enquanto a cidade lidava com as consequências.
Moradores disseram aos meios de comunicação locais que o caos se instalou na terça-feira, enquanto eles se esquivavam das balas durante a operação que vazou para as ruas da cidade.
“Vimos pessoas executadas: tiros nas costas, tiros na cabeça, facadas, pessoas amarradas. Este nível de brutalidade, o ódio se espalhando – não há outra maneira de descrevê-lo, exceto como um massacre”, disse um ativista local. Raúl Santiagodisse à ABC.
O que é Comando Vermelho?
O Comando Vermelho, ou Comando Vermelho, é o grupo criminoso mais antigo do Brasil, de acordo com o InSight Crime, um think tank que estuda o crime organizado. O grupo começou em um presídio do Rio de Janeiro na década de 1970 como forma de autoproteção dos presos e foi inspirado em guerrilhas de esquerda.
“As péssimas condições do presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, no estado do Rio de Janeiro, levaram os presos a se unirem para sobreviver dentro do sistema”, disse o think tank escreve em seu perfil do grupo.
Na década de 1980, o grupo envolveu-se na produção e tráfico de cocaína, mas também manteve um papel social nas comunidades marginalizadas de uma das cidades mais visitadas do país. As suas atividades criminosas incluem tráfico de drogas, tráfico de armas, extorsão de proteção, agiotagem e guerras territoriais contra outras organizações criminosas na área.
O grupo de reflexão acrescentou que o grupo teve de enfrentar grupos de milícias que tentaram abrir caminho ao território nos últimos anos, bem como ataques policiais em massa, especialmente desde a pandemia. Eles afirmam que nos últimos dois anos, o Comando Vermelho conseguiu retomar o controle do Rio, agora “governando mais da metade da cidade”.
Segundo Júlia Quirino, Ph.D. doutorando em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que estuda Comando Vermelho, o grupo expandiu recentemente no desenvolvimento de um aplicativo móvel de compartilhamento de viagens.
“Mais do que uma curiosidade, é uma indicação de como os grupos armados ilegais estão a incorporar tecnologias digitais para expandir a sua capacidade de controlo territorial e diversificação de receitas”, concluiu a investigação de Quirino.
De acordo com a sua investigação e com grupos estaduais de segurança pública, apenas 11% dos lucros do grupo provêm da venda de drogas, enquanto a maioria provém da “extorsão de comerciantes” e da prestação de serviços “essenciais” como distribuição de gás, venda de água e transporte.
O Comando Vermelho vem ampliando gradualmente seu controle sobre o Rio desde 2022, lutando com milícias que mantêm laços com o Estado e a polícia, para capturar território e consolidar seu domínio sobre a cidade.
Em 2024, o poder mudou a favor do Comando Vermelho, de acordo com um Relatório de crimes do InSight. O grupo também estava estendendo seu controle para fora do Rio. No final de 2024, segundo a Associated Press, o grupo controlava metade dos municípios de a região amazônicaacima de um quarto no ano anterior.
Autoridades disseram que a operação no Rio tinha como objetivo impedir a propagação do grupo.
A invasão sinaliza uma nova repressão
As táticas agressivas de Castro contra o tráfico de drogas no Rio de Janeiro refletem as táticas de direita de seu ex-aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e poderiam ser uma medida para Castro ganhar pontos políticos na questão do crime organizado.
“Permanecemos firmes no confronto com o narcoterrorismo”, disse Castro, do conservador Partido Liberal, de oposição, após a operação.
O Rio tem sido particularmente atormentado por abusos policiais. O Supremo Tribunal Brasileiro ordenou que o Rio em 2020 trabalhasse para conter casos de abuso por parte de policiais, uma medida que A Human Rights Watch afirma levou a uma queda dramática nos assassinatos no estado.
A brutalidade do ataque desta semana foi suficiente para suscitar críticas da porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Marta Hurtado.
“Compreendemos perfeitamente os desafios de ter que lidar com grupos violentos e bem organizados como o Comando Vermelho”, disse ela, mas apelou ao Brasil para “quebrar este ciclo de extrema brutalidade e garantir que as operações de aplicação da lei cumpram os padrões internacionais relativos ao uso da força”.
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