Cientistas dizem que o glúten não é o problema, afinal

Cientistas dizem que o glúten não é o problema, afinal

Cientistas dizem que o glúten não é o problema, afinal

Uma importante revisão científica descobriu que o que muitas pessoas chamam de “sensibilidade ao glúten” pode, na verdade, estar ligado à forma como o intestino e o cérebro se comunicam, e não ao glúten em si. A condição afeta cerca de 10% das pessoas em todo o mundo, e as novas descobertas podem remodelar a forma como é compreendida, diagnosticada e tratada.

Publicado em 22 de outubro em A Lancetaa revisão abrangente analisou estudos existentes sobre sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC). Os pesquisadores tiveram como objetivo esclarecer por que as pessoas apresentam sintomas após comer alimentos que contêm glúten, mesmo que não tenham doença celíaca. Sintomas como inchaço, dor abdominal e fadiga são comuns entre aqueles que relatam sensibilidade ao glúten.

A maioria dos sintomas não é causada pelo glúten

A professora associada Jessica Biesiekierski, da Universidade de Melbourne, que liderou o estudo, explicou que os resultados desafiam suposições de longa data sobre a doença.

“Ao contrário da crença popular, a maioria das pessoas com SGNC não reage ao glúten”, disse ela. “Nossas descobertas mostram que os sintomas são mais frequentemente desencadeados por carboidratos fermentáveis, comumente conhecidos como FODMAPs, por outros componentes do trigo ou pelas expectativas das pessoas e experiências anteriores com alimentos”.

Quando os pesquisadores compararam as reações em estudos cuidadosamente controlados, descobriram que apenas um pequeno número de pessoas apresentava respostas genuínas ao glúten. No geral, as reações não foram diferentes daquelas causadas por um placebo.

Uma nova definição para sensibilidade ao glúten

De acordo com Biesiekierski, evidências recentes mostram que pessoas com síndrome do intestino irritável (SII) que pensam ser sensíveis ao glúten geralmente reagem de maneira semelhante ao glúten, ao trigo e ao placebo. “Isto sugere que a forma como as pessoas antecipam e interpretam as sensações intestinais pode influenciar fortemente os seus sintomas”, disse ela.

Tomadas em conjunto, as descobertas indicam que a SGNC faz parte de um espectro mais amplo de interação intestino-cérebro, mais intimamente relacionado a condições como a SII do que a um distúrbio do glúten.

Implicações para a saúde pública e tratamento

A equipa de investigação, que incluiu cientistas da Austrália, Holanda, Itália e Reino Unido, disse que os resultados têm consequências importantes na forma como os sintomas relacionados com o intestino são tratados. Podem influenciar não só o diagnóstico médico e o aconselhamento dietético, mas também futuras mensagens de saúde pública.

“Milhões de pessoas em todo o mundo evitam o glúten acreditando que este prejudica o seu intestino, muitas vezes depois de experimentarem sintomas reais que vão desde um desconforto ligeiro a uma angústia grave”, disse Biesiekierski. “Melhorar a nossa compreensão científica e clínica de uma condição que afecta até 15 por cento da população global é extremamente importante”.

Rumo a um diagnóstico mais preciso e atendimento personalizado

O professor associado Jason Tye-Din, diretor do Snow Center for Immune Health e gastroenterologista do Royal Melbourne Hospital, disse que o entendimento atualizado ajudará os médicos a identificar e tratar melhor as pessoas com SGNC.

“Distinguir a SGNC das condições intestinais relacionadas é essencial para que os médicos ofereçam um diagnóstico preciso e cuidados individualizados, bem como tratem as causas subjacentes”, disse ele. “Esta revisão apoia uma abordagem mais personalizada e baseada em evidências para a saúde intestinal e evita restrições alimentares desnecessárias”.

Repensando as mensagens sobre glúten

Biesiekierski acrescentou que o manejo bem-sucedido da SGNC deve combinar mudanças na dieta com apoio psicológico, mantendo ao mesmo tempo uma nutrição adequada.

“Gostaríamos que as mensagens de saúde pública se afastassem da narrativa de que o glúten é inerentemente prejudicial, pois esta investigação mostra que muitas vezes não é esse o caso”, disse ela. “Estas descobertas exigem adicionalmente melhores ferramentas de diagnóstico, percursos clínicos mais rigorosos e financiamento de investigação neste campo, bem como uma melhor educação pública e rotulagem de alimentos”.

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