Os animais caem em ilusões de ótica? O que peixes e pássaros podem nos ensinar sobre percepção
A famosa ilusão de Ebbinghaus, nomeada em homenagem ao seu descobridor, o psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus (1850–1909). Apesar das aparências, os dois círculos laranja são do mesmo tamanho. Crédito: Wikimedia Commons, domínio público
Você já olhou para dois círculos exatamente do mesmo tamanho e jurou que um deles era maior? Se assim for, os seus olhos foram enganados pela ilusão de Ebbinghaus, um exemplo clássico de como o contexto pode moldar o que vemos. Coloque um círculo entre outros círculos menores e ele parecerá maior; coloque-o entre os maiores e ele encolherá diante de nossos olhos. Esta ilusão fascina os psicólogos porque revela que a percepção não é um espelho do mundo exterior, mas uma construção inteligente do cérebro.
Mas aqui está a questão que inspirou um novo estudo: outros animais caem nos mesmos truques? Se um peixinho ou um pássaro percebe a ilusão, o que isso nos diz sobre a maneira como eles veem e interpretam o que os rodeia?
Ilusões são mais que curiosidades. São ferramentas poderosas para compreender como o cérebro reúne informações sensoriais. Quando a percepção dá “errado”, ela destaca os atalhos e estratégias que o cérebro usa para dar sentido a ambientes complexos.
Nos humanos, a ilusão de Ebbinghaus está ligada ao processamento global: a tendência de interpretar uma cena como um todo antes de focar nos detalhes. Mas nem todos os animais vivem no mesmo mundo sensorial que nós.
Ao testar ilusões entre espécies, podemos perguntar se os padrões partilhados apontam para raízes evolutivas profundas ou se as diferenças revelam adaptações a nichos ecológicos específicos. Por exemplo, o processamento global pode ter evoluído em espécies que necessitam de integrar rapidamente cenas complexas – como a deteção de predadores ou a avaliação do tamanho do grupo – enquanto o processamento local pode ser favorecido em espécies que dependem do reconhecimento preciso de objetos, como a seleção de sementes ou presas num contexto desordenado.
Peixes versus pássaros: dois mundos de visão
Para explorar isto, os investigadores recorreram a duas espécies muito diferentes: o guppy (Poecilia reticulata) e a pomba-anelada (Streptopelia risoria). As descobertas foram publicadas em Fronteiras em Psicologia.
Os guppies habitam riachos tropicais rasos cheios de luz bruxuleante, vegetação densa e predadores imprevisíveis. A sua sobrevivência depende de decisões rápidas: escolher parceiros, juntar-se a cardumes e escapar a ameaças. Num mundo tão confuso, ser capaz de avaliar rapidamente o tamanho relativo pode ser crucial.
As pombas anelares, por outro lado, são granívoros terrestres. Eles passam grande parte do tempo bicando pequenas sementes espalhadas pelo chão. A precisão e a atenção aos detalhes podem ser mais importantes do que a análise de toda a cena. Além disso, a sua visão binocular permite-lhes fazer julgamentos precisos de distância e tamanho num contexto muito diferente.
Ao colocar essas espécies lado a lado, os pesquisadores perguntaram: será que a mesma ilusão engana tanto um peixe que corre pela água quanto um pássaro que procura o solo?
Círculos de engano
Os experimentos usaram a comida como “círculo” central. Para os guppies, os flocos de comida eram colocados em conjuntos de círculos menores ou maiores. Para as pombas, as sementes de milheto foram apresentadas em arranjos semelhantes.
Os resultados foram surpreendentes: os Guppies caíram consistentemente na ilusão. Quando a comida era cercada por círculos menores, os guppies a escolhiam com mais frequência, como se realmente fosse maior. Sua percepção espelhava de perto a dos humanos. As pombas aneladas, no entanto, contaram uma história diferente.
No nível do grupo, eles não mostraram nenhuma suscetibilidade clara à ilusão. Alguns indivíduos comportaram-se como os humanos, outros de forma oposta, e muitos pareciam completamente inalterados. Esta variabilidade sugere que as pombas podem contar com diferentes estratégias perceptivas; mais local, orientado para os detalhes e menos influenciado pelo contexto circundante.
Por que isso importa?
À primeira vista, pode parecer apenas um divertido truque de visão. Mas estas descobertas abordam questões mais profundas da biologia evolutiva e da cognição comparativa: a percepção não tem a ver com precisão por si só, mas com o que funciona num determinado ambiente.
Para os guppies, a integração de toda a cena pode ajudá-los a navegar em riachos visualmente complexos, localizar parceiros maiores ou avaliar rapidamente os tamanhos relativos em um cardume. Para as pombas, que estão sintonizadas para colher sementes em um fundo confuso, focar no tamanho absoluto e nos detalhes locais talvez possa ser mais útil.
O estudo também nos lembra que a variação dentro de uma espécie pode ser tão reveladora quanto as diferenças entre espécies. As respostas mistas das pombas sugerem que a experiência individual ou o preconceito inato podem moldar fortemente a forma como um animal interpreta as ilusões. Tal como nos humanos, onde algumas pessoas são fortemente enganadas por ilusões e outras quase nada, a percepção animal não é uniforme.
Uma janela para outras mentes
Ao comparar espécies tão diferentes como peixes e pássaros, temos um vislumbre da extraordinária diversidade de mundos perceptivos. A ilusão de Ebbinghaus é apenas uma das muitas ferramentas que os investigadores utilizam para explorar estes mundos, mas destaca um ponto chave: o que vemos nem sempre é o que está lá.
Para os humanos, isto é um lembrete dos atalhos criativos do cérebro. Para os animais, mostra como as pressões ecológicas esculpem a percepção de formas que se adaptam ao estilo de vida de cada espécie. E para a ciência, abre uma janela para as origens evolutivas da própria cognição. Estudar as ilusões entre espécies ajuda-nos a compreender não apenas como os animais veem, mas também como a percepção evolui para enfrentar os desafios da vida na Terra.
Mais informações:
Círculos de engano: a ilusão de Ebbinghaus dos peixes aos pássaros, Fronteiras em Psicologia (2025). DOI: 10.3389/fpsyg.2025.1653695
Citação: Os animais caem em ilusões de ótica? O que peixes e pássaros podem nos ensinar sobre percepção (2025, 20 de outubro) recuperado em 20 de outubro de 2025 em
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