Danos ocultos no DNA mitocondrial podem ser um elo perdido na doença
Um tipo recentemente identificado de dano ao DNA dentro das mitocôndrias, as pequenas estruturas que fornecem energia às células, pode ajudar a explicar como o corpo detecta e reage ao estresse. O trabalho, liderado por pesquisadores da UC Riverside e publicado no Anais da Academia Nacional de Ciênciassugere que esta descoberta pode ser relevante para doenças ligadas à função mitocondrial defeituosa, incluindo cancro e diabetes.
As mitocôndrias carregam seu próprio material genético, conhecido como DNA mitocondrial (mtDNA). Este código genético é essencial para gerar energia celular e para enviar sinais importantes dentro e fora da célula. Embora os cientistas saibam há muito tempo que o mtDNA é facilmente danificado, os detalhes biológicos não foram totalmente compreendidos. O novo estudo identifica uma fonte específica de danos: adutos de DNA glutationilado (GSH-DNA).
Um aduto é uma ligação química volumosa que se forma quando um composto, como um carcinógeno, se liga diretamente ao DNA. Quando a célula não consegue reparar esse tipo de dano, podem ocorrer mutações e a probabilidade de doenças aumenta.
DNA mitocondrial mostra vulnerabilidade extrema
Em experiências utilizando células humanas cultivadas, a equipa descobriu que estes aductos de GSH-ADN se acumulam no mtDNA em níveis até 80 vezes superiores aos do ADN nuclear. Esta grande diferença destaca o quão exposto o mtDNA está a esta forma de lesão.
Linlin Zhao, autor sênior do estudo e professor associado de química na UCR, observou que o mtDNA representa apenas cerca de 1-5% do DNA total de uma célula. Possui estrutura circular, contém 37 genes e é herdado exclusivamente da mãe. Em contraste, o DNA nuclear (nDNA) é linear e é transmitido por ambos os pais.
“O mtDNA é mais sujeito a danos do que o nDNA”, disse Zhao. “Cada mitocôndria possui muitas cópias de mtDNA, o que fornece alguma proteção de backup. Os sistemas de reparo do mtDNA não são tão fortes ou eficientes quanto os do DNA nuclear.”
Yu Hsuan Chen, primeiro autor do estudo e estudante de doutorado no laboratório de Zhao, comparou a mitocôndria a um motor e a um centro de comunicação da célula.
“Quando o manual do motor – o mtDNA – é danificado, nem sempre é por um erro ortográfico, uma mutação”, disse Chen. “Às vezes, é mais como um post-it que fica preso nas páginas, dificultando a leitura e o uso. É isso que esses adutos de GSH-DNA estão fazendo.”
Como as lesões pegajosas do DNA afetam a função celular
Os cientistas observaram que, à medida que estas lesões pegajosas se acumulam, perturbam a actividade mitocondrial normal. As proteínas necessárias para a produção de energia diminuem, enquanto as proteínas envolvidas nas respostas ao estresse e no reparo mitocondrial aumentam, indicando que a célula tenta neutralizar os danos.
A equipe também contou com modelagem computacional avançada para entender como os adutos influenciam a estrutura do mtDNA.
“Descobrimos que as etiquetas adesivas podem, na verdade, tornar o mtDNA menos flexível e mais rígido”, disse Chen. “Essa pode ser uma maneira pela qual a célula ‘marca’ o DNA danificado para descarte, evitando que ele seja copiado e transmitido”.
Implicações para estresse, imunidade e doenças
De acordo com Zhao, a descoberta de adutos de GSH-DNA cria novas oportunidades para estudar como o mtDNA danificado funciona como um sinal de alerta dentro do corpo.
“Problemas com mitocôndrias e inflamação ligados ao mtDNA danificado têm sido associados a doenças como neurodegeneração e diabetes”, disse ele. “Quando o mtDNA é danificado, ele pode escapar das mitocôndrias e desencadear respostas imunológicas e inflamatórias. O novo tipo de modificação do mtDNA que descobrimos pode abrir novas direções de pesquisa para entender como ele influencia a atividade imunológica e a inflamação”.
Zhao e Chen colaboraram com cientistas da UCR e do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas.
A pesquisa foi financiada por doações dos Institutos Nacionais de Saúde e UCR.
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