Como impulsionar a energia renovável no mundo em desenvolvimento

Como impulsionar a energia renovável no mundo em desenvolvimento

Como impulsionar a energia renovável no mundo em desenvolvimento

À medida que o mundo acelera os esforços rumo à neutralidade carbónica, torna-se cada vez mais claro que os países em desenvolvimento desempenharão um papel decisivo no sucesso – ou no fracasso – da transição energética global. Embora muitos destes países sejam ricos em recursos renováveis ​​e estejam a assumir fortes compromissos políticos para aumentar a sua implantação, os níveis de investimento permanecem muito mais baixos do que no mundo desenvolvido.

Na verdade, apenas 2% dos 807 mil milhões de dólares investidos em energias renováveis ​​a nível mundial chegaram aos países menos desenvolvidos em 2024.

Apesar dos recentes esforços para aumentar os recursos financeiros atribuídos pelos governos, o financiamento do sector público a nível mundial será insuficiente para satisfazer as necessidades de investimento na transição energética. Os fundos públicos devem, portanto, ser complementados pelo apoio do sector privado. No entanto, atrair investimento privado é especialmente difícil para as economias em desenvolvimento e emergentes devido aos maiores riscos percebidos (reais ou não) e aos retornos imprevisíveis.

Com mais de 75% dos investimentos em energias renováveis ​​provenientes de fontes privadas entre 2013 e 2020, e a maior parte deste capital preferindo mercados maduros, o reforço da confiança dos investidores nos mercados em desenvolvimento e emergentes é fundamental para aumentar o progresso.

O planeamento energético que incorpora estratégias financeiras implementáveis ​​pode ser transformador. Em muitos países, o planeamento ainda é tratado como uma tarefa técnica autónoma, desligada dos processos de tomada de decisão e dos fluxos de investimento. Mas quando abordado como um processo estratégico e colaborativo, o planeamento energético reduz o risco, sinaliza um compromisso político a longo prazo e cria a confiança dos investidores necessária para mobilizar financiamento em grande escala.

Isso não é teoria – o Brasil mostrou como isso pode funcionar na prática. Através do planeamento integrado e de estratégias financeiras coordenadas, o país atraiu capital privado, aumentou as energias renováveis ​​e reforçou as cadeias de abastecimento nacionais.

As instituições financeiras de desenvolvimento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foram envolvidas desde o início do processo de planejamento, ajudando a garantir a coerência entre os objetivos políticos e os instrumentos financeiros. Esta coordenação precoce ajuda a criar o ambiente estável, previsível e transparente que os investidores privados procuram. Hoje, o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com cerca de 90% de sua eletricidade e metade de seu fornecimento total de energia provenientes de fontes renováveis.

Instituições como o Escritório de Pesquisa Energética do Brasil e as agências reguladoras nacionais trazem os recursos e habilidades necessários para apoiar o Ministério de Energia do país no planejamento, desenvolvimento e implementação. A regularidade dos leilões de energias renováveis ​​também fornece sinais claros de investimento e apoia o desenvolvimento de uma carteira de projetos sólida. Um quadro regulamentar estável e funções institucionais claramente definidas contribuem para uma melhor coordenação entre as partes interessadas. A utilização de ferramentas de planeamento, como o Balanço Energético Nacional, o Plano Decenal de Expansão da Energia e a Estratégia Energética de Longo Prazo, também têm sido fundamentais para permitir a tomada de decisões baseada em dados e a análise de cenários a longo prazo.

Em contraste, muitos países em desenvolvimento carecem de capacidade institucional e de recursos para utilizar plenamente as ferramentas de planeamento energético. Em alguns casos, o processo de planeamento é fragmentado entre agências e desenvolvido isoladamente de estratégias de desenvolvimento mais amplas. Noutros, o acesso limitado a dados, ferramentas de modelização e conhecimentos técnicos dificulta a tradução dos objectivos energéticos e climáticos em caminhos implementáveis. Os intervenientes financeiros são muitas vezes envolvidos numa fase tardia do processo, desligando o planeamento teórico do acompanhamento prático.

Para resolver esta lacuna, o governo brasileiro e a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) lançaram recentemente a Coligação Global para o Planeamento Energético (GCEP). A ideia surgiu da presidência brasileira do G20 em 2024 e visa encontrar maneiras de apoiar os países no desenvolvimento de planos energéticos robustos e prontos para investimento, que possam atrair capital privado para impulsionar o crescimento das energias renováveis ​​no mundo em desenvolvimento. Embora o GCEP se inspire na experiência brasileira, não pretende exportá-la como modelo. Em vez disso, procura co-desenvolver soluções personalizadas que reflitam os contextos, capacidades e prioridades nacionais.

Estamos chegando a um ponto de inflexão. Para manter vivo o Acordo de Paris, e em linha com os resultados do primeiro Balanço Global na conferência climática da ONU de 2023 no Dubai, conhecida como COP28, o mundo concordou em triplicar a capacidade de energia renovável até 2030. Com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) – que descrevem planos nacionais para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa no âmbito do Acordo de Paris – ainda a serem apresentadas na COP30, a conferência mostrará se os governos responderam seriamente à tarefa em questão. Ao demonstrar que a transição energética não é um custo, mas sim um investimento estratégico na segurança energética e no desenvolvimento socioeconómico, podemos capacitar os países para apresentarem metas mais ambiciosas em matéria de energias renováveis.

No entanto, as metas só são significativas na medida em que podem ser concretizadas. Isto significa investir não só na produção de energia renovável, mas também nas redes e infraestruturas que possam permitir a sua implantação em grande escala.

O mundo tem a tecnologia, o know-how e o incentivo para acelerar a mudança para um sistema energético baseado em energias renováveis. Mas para que isso aconteça, os países devem colmatar a lacuna entre a ambição e a ação – transferindo o debate sobre energia e clima dos slogans e aspirações para uma implementação concreta e pragmática. Isso significa desenvolver planos credíveis e prontos para investimento que possam transformar compromissos em progresso real.

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