A Constituição do Equador protege a natureza. Agora isso está em risco

A Constituição do Equador protege a natureza. Agora isso está em risco

A Constituição do Equador protege a natureza. Agora isso está em risco

Há quase duas décadas, o Equador tornou-se o primeiro país a consagrar legalmente os direitos da natureza na sua constituição. Este movimento histórico tornou o país o primeiro no mundo a reconhecer os ecossistemas como entidades vivas com direitos legais. Agora, tudo isso está em risco.

No dia 16 de novembro, os eleitores irão às urnas para decidir sobre um referendo constitucional que, se aprovado, dissolveria a atual constituição – abrindo caminho para a potencial erosão dos direitos fundamentais que esta estabeleceu para a natureza e as comunidades indígenas. Se os eleitores aprovarem o referendo, abrirá a porta para o presidente do Equador, Daniel Noboa, reescrever a constituição; não está claro como seriam quaisquer revisões potenciais.

“O facto de quererem mudar uma constituição que reconhecia tantos direitos, não apenas os direitos da natureza, mas também os direitos dos povos indígenas… significa que estão a andar para trás”, afirma Gustavo Redín Guerrero, vice-presidente da CEDENMA, uma rede de organizações ambientais que se concentra na protecção e conservação ambiental no Equador.

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O Equador reescreveu sua Constituição número de vezes no século passado, mas a reescrita constitucional de 2008, liderada pela aliança de esquerda PAIS do ex-presidente Rafael Correa, destacou-se por ser um processo colaborativo que permitiu o envolvimento dos cidadãos do país. O texto “é bastante excepcional porque foi o resultado de um processo muito participativo onde as comunidades e diferentes sectores da sociedade civil organizada puderam apresentar as suas próprias ideias de como deveríamos viver juntos, de como deveríamos cuidar do Equador”, afirma Cristina Espinosa, professora assistente de governação da sustentabilidade na Universidade de Friburgo.

Noboa, que chegou ao poder depois de vencer uma eleição antecipada em 2023 com a centro-direita Ação Democrática Nacional partido, disse que uma nova constituição é necessária para combater o crime no país, mas deu pequenos detalhes sobre como isso pode ser. De acordo com um Bloomberg relatório, Noboa quer limitar o devido processo e os direitos dos prisioneiros, e acusar os juízes do Tribunal Constitucional que ele acredita estarem dificultando a luta contra o crime. Mas os activistas ambientais temem que, ao fazê-lo, uma reescrita possa eliminar os direitos da natureza estabelecidos há 17 anos.

“A orientação política de Noboa é bastante diferente da orientação política do governo em vigor em 2008”, afirma Espinosa, que espera que qualquer potencial reescrita seria provavelmente menos participativa e incluiria reformas para facilitar as agendas extractivas. “Noboa pertence a uma das famílias mais ricas do Equador e creio que tem em mente um país muito diferente daquele que se imaginou com a constituição de 2008.”

Noboa tem apoiado abertamente o aumento das práticas de mineração extrativa num dos países com maior biodiversidade do mundo. Em julho, ele emitiu uma ordem executiva eliminando o Ministério do Ambiente, Água e Transição Ecológica do país e transferir as suas funções para o Ministério da Energia e Minas – eliminando efectivamente qualquer supervisão das indústrias petrolífera e mineira. Seu governo também anunciado um plano em Setembro para leiloar os direitos de 49 projectos de petróleo e gás na Amazónia no valor de mais de 47 mil milhões de dólares.

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Os defensores do ambiente vêem este próximo referendo constitucional como mais um passo preocupante nesta direcção. “Eles estão tentando apagar toda (proteção) da constituição para (empresas de mineração) terem mais acesso para explorar mais ouro, cobre e outros recursos”, diz o líder indígena Majo Andrade Cerda.

A constituição do Equador de 2008 inspirou uma onda de outros países: desde então, a Bolívia, a Índia e o México tiveram decisões judiciais ou promulgaram leis a nível nacional ou estatal reconhecendo os direitos da natureza. E a constituição do Equador também teve um impacto nacional ao longo dos anos. Em 2011, por exemplo – o primeiro processo judicial bem-sucedido de defesa dos direitos da natureza no país – um tribunal provincial decidiu a favor do rio Vilcabamba, depois de um projecto de obras rodoviárias estar a poluir o rio. A constituição não só forneceu uma base jurídica para proteger o rio, mas o resultado também beneficiou as comunidades indígenas que vivem ao longo do rio.

“Quando falamos sobre os direitos da natureza, estamos falando sobre os direitos dos povos indígenas”, diz Cerda.

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Os eleitores irão às urnas neste domingo para decidir se a Constituição deve ser reescrita – os relatórios mostram que o lado “sim” do Presidente Noboa parece estar significativamente gastar mais a campanha do “não” na publicidade. Mas o resultado de uma votação positiva – e o potencial impacto nos recursos naturais do país – será sentido, alertam os defensores.

“Isso não vai acontecer apenas na Amazônia, vai acontecer nos Andes, nas Galápagos”, diz Cerda. “Isso afetará todos os equatorianos.”

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